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domingo, 22 de julho de 2012

Entrevista

Achei uma entrevista com a Marisa na época em que ela interpretava a Van Van na novela "Agora É Que São Elas"







A intérprete da exagerada Van Van, de Agora é que São Elas, faz graça até quando tenta entender por que criou esta "família de mulheres exibicionistas", como define sua galeria de personagens. "Só pode ser reencarnação!", diverte-se. "Até porque, na vida, sou tão pouco perua...", completa, com naturalidade. De fato, não fosse pela presença marcante e pelas falas pontuadas por tiradas irônicas, Marisa até que faria um tipo discreto. A postura "pé-no-chão" e a forma simples de encarar a glamourizada profissão de estrela de tevê são as mesmas que demonstra no programa Saia Justa, do GNT, canal Globosat. Ao lado de Mônica Waldvogel, Rita Lee e Fernanda Young, a atriz muitas vezes faz o papel de "organizadora" das emoções do grupo, embora o posto oficial seja da jornalista. "Acho que sou boa mediadora de conversas", declara, sem falsa modéstia.

Longe das novelas desde Deus nos Acuda, de 1992, Marisa assume que hoje se sente insegura diante do formato. A ponto de se lembrar de sua estréia, quando caiu de pára-quedas num elenco com Marília Pêra, Regina Duarte e Antônio Fagundes, que vivia seu noivo. Mas, depois do Sai de Baixo, a situação é diferente. "Mudei de patamar", avalia. Quanto à reedição da dupla com Miguel Falabella, que vive o prefeito Juca Tigre em Agora é que São Elas, a atriz reconhece pelo menos uma grande vantagem. "Fica mais fácil explicar para o meu filho: 'Olha, toda vez que a mamãe trabalha, é casada com este moço'", pondera a zelosa mãe de João, de quatro anos.

P - Você acha que conseguiu "exorcizar" a Magda, ou ela ainda transparece sob a pele da Van Van?
R - A Van Van me lembra muito mais a Maralu Menezes, uma personagem que fiz com o Vexame. Na verdade, tenho uma família de mulheres exibicionistas por aí. São peruas. E rio muito disso, porque sou muito pouco perua na vida. Mas elas têm muitas nuances. Não se pode comparar uma Dulce Figueiredo, uma antiga perua clássica, com uma Viviane Araújo, uma perua moderna. Não tenho o menor medo de me repetir. Acho a Magda muito característica. No final do "Sai de Baixo", ela era quase uma deficiente mental. No começo, era só uma tola, mas no final precisaria andar de mãos dadas com alguém na rua.

P - Mas nem a reedição da dupla com o Miguel Falabella trouxe o receio de repetir a Magda e o Caco?
R - Quando topei fazer a novela, nem sabia que o personagem seria do Miguel. Quando soube que seria ele, pensei: "Caramba, o Miguel de novo!". Mas pensei mais no amigo, no conhecimento absurdo que tenho dele. E achei engraçado. Claro que fica todo mundo em cima: "Ah, vamos ver se eles vão conseguir...". E é claro que vão dizer que não, que está parecido. Isso tudo eu já sabia. Faz parte da natureza humana. A gente sempre pensa no pior.

P - Você teve algum cuidado especial para diferenciar as duas personagens?
R - Só um pouco de sotaque e uma saia um pouquinho maior. Aliás, saias tão curtas quanto aquelas, nunca mais! Meu único cuidado é tentar fazer bem esta mulher. Se eu a fizer bem, vai passar longe da Magda. E isso não depende só de mim. Tem o Linhares escrevendo, o Talma dirigindo, outros atores contracenando comigo. Se a Van Van existe no papel e se eu for uma atriz razoável a ponto de traduzir o que está lá, ela será a Van Van. Afinal, nossa profissão é esta. Preciso fazer pelo menos mais de uma.

P - Como você classifica a Van Van dentro de sua "galeria de peruas"?
R - Ela é do tipo que faz uso de ser mulher, aproveita a sedução. E, no contexto da novela, é um contraponto à luta das feministas. Assim como há as mulheres que estão nas ruas, trabalhando, batalhando um lugar, há aquelas que também estão se emancipando, mas uma coisa "à la" revista "Nova". Sabe aquela mulher que segue dicas do tipo: "no primeiro encontro, fale pouco, para deixar o homem pensar que é mais inteligente que você"? Ela se emancipa sim, mas é na carteira do marido. Mas não acho que ela seja má, ou exclusivamente fútil. É uma verdadeira perua, mas, na hora do "vamos ver", é forte, companheira, amiga. É aquela mocinha pobre, que virou Miss Brasil e casou com o prefeito da cidade.

P - É complicado interpretar uma ex-Miss Brasil numa novela que tem Vera Fischer no elenco?
R - Fazer uma miss do lado da Vera é um pouco constrangedor. Não é mole não. E a produção da novela, tão carinhosa, me arrumou uma foto para me inspirar nas primeiras sessões de fotos que fiz vestida de Miss. E era uma foto adivinhem de quem? Coincidência, não!?! Mas acho engraçado a Van Van poder falar coisas do tipo: "Não sei o que este homem vê nesta mulher. Gente, é uma lourinha! Tá certo, uma lourinha de olho azul, mas francamente!". É um despeito... Acho que todas as mulheres do Brasil devem se identificar um pouco. Outra coisa legal é que eu sempre quis ser Miss. Acho que toda menina tinha esta fantasia. Há tempos atrás, a Vânia Toledo fez um livro de fotografias em que cada atriz escolhia uma personagem. Teve quem fizesse Iansã, outras recriaram "Esperando Godot". Eu fiz a Miss, uma Miss Mundo.

P - É este o lado que mais a atrai na personagem?
R - Não, o que mais me atrai é a força que ela tem escondida. Ela se faz de fraca, tonta, submissa. Tem essa coisa de mulher esperta, que eu nunca tive: aquela que sabe jogar com um homem, sabe seduzir. E uma alegria invejável, que ela não perde nunca. Admiro muito isso nas pessoas. Estou mais para: "Oh, dia! Oh, céus!". Sou mais para a metade do copo vazio, não para a metade do copo cheio. E ela é otimista.

P - Quais foram suas principais inspirações na composição da Van Van?
R - Várias amigas de nomes não citáveis. Tem uma coisa de interior de São Paulo, um pedaço de interior rico, onde a cultura não necessariamente acompanha o dinheiro. E uma certa alienação muito atual. Em meio a este clima de queda do Império Romano que estamos vivendo, a festa vai tocando em frente. O mundo indo para o buraco e elas ali, suntuosas, loucas.

P - Neste sentido, você acha que ela lhe possibilita uma crítica social?
R - Sempre coloco um pouco de crítica nas minhas personagens. É meu jeito de interpretar. Claro que com amor, com carinho, sem me separar das personagens. Quando faço uma personagem engraçada, não fico pensando em fazer graça. Faço na maior verdade. Na realidade, não sou eu que faço a crítica, ela está no texto. Sou uma operária-padrão. Tento pensar no que estava na cabeça do autor quando ele escreveu o texto.

P - Ficar tanto tempo longe das novelas fez falta?
R - A novela é uma tremenda instituição brasileira. Até brinquei com minhas amigas, dizendo que não posso mais sair com elas, porque estou "alistada". A gente se sente prestando um serviço à Pátria. E é bom poder voltar a fazer novela com mais segurança, mais prestígio. Vejo um ator jovem falando: "Nossa, estou contracenando com a Marisa Orth!" e me lembro da minha estréia. Mas continuo me sentindo insegura, porque é um formato que não domino. Não só por estar muito tempo afastada, mas porque fico entregue nas mãos do autor, do diretor, do público. Senti diferenças. Nunca tinha visto tanto ator num elenco, tantas cenas no mesmo dia, um nível de acabamento tão bom. Mas tive a sorte de fazer grandes programas. Fiz "TV Pirata", o "Sai de Baixo", dramaturgia especial. E não tinha um contrato longo com a Globo. Fazia um trabalho e saía para fazer teatro, para montar um espetáculo com a banda. É um jeito que pretendo continuar mantendo. O único contrato longo que tive foi no "Sai de Baixo", que me permitia fazer teatro porque era um só dia de gravação por semana.

P - Mas não foi o próprio programa que lhe deu condições de hoje optar por este estilo?
R - Sem dúvida. Com o "Sai de Baixo", mudei de patamar na carreira. Foi uma coisa muito sólida. Antes, não podia nem criar uma planta. Com o programa, passei seis anos morando só em São Paulo, trabalhando duas vezes por semana e com estabilidade financeira. Pude casar, ficar grávida, ter o meu filho e criá-lo até quase os quatro anos de uma maneira muito tranqüila. Mas chega uma hora em que este sucesso se torna aprisionante, monótono. É um equilíbrio delicado. Ao mesmo tempo em que acontece tudo o que a gente sonhou, anos e anos de sucesso com um mesmo programa cansam muito.

Prendendo o riso

Marisa Orth sempre foi a "palhaça da turma", em casa ou na escola. Mas, iniciada a carreira no teatro, resistiu durante muito tempo à natureza de comediante. Emendou logo de cara uma série de papéis dramáticos e chegou a interpretar uma personagem de 70 anos de idade quando tinha apenas 20, na peça Criança Enterrada, de Sam Sheppard. "Na escola, não me ensinaram a fazer comédia. E nunca pensei que pudesse viver daquela bobagem que fazia para meus primos darem risada", justifica.

Atriz formada pela Escola de Artes Dramáticas, da Universidade de São Paulo, Marisa confessa que tinha preconceito contra a comédia. A primeira vez que se referiram a ela como "uma grande comediante" foi um choque. Nada que uma série de trabalhos cômicos e mais de 10 anos de estrada com a banda Vexame não pudessem curar. Hoje, Marisa tem até orgulho do título. "A linhagem das pessoas que fazem humor no Brasil é das mais nobres. Fico honradíssima de fazer parte disso", assegura.

Pouca coisa mudou, no entanto, da resistência inicial à aceitação plena do humor. No meio do caminho, a vivência de seis anos como a inacreditável Magda, do Sai de Baixo, chegou a causar o temor de que ficasse difícil conseguir outras personagens. O rótulo só não assustou mais porque Marisa já tinha enfrentando uma situação bastante parecida. "Tinha passado pela Nicinha, um sucesso absurdo no meu primeiro trabalho na tevê. Era 'a piranha', um rótulo bem mais pesado. Depois disso, virar 'a burra' foi até agradável", brinca. A atriz aprendeu já na estréia que não há papel que um bom ator não possa substituir por outro na visão do público. Dois anos depois, ao entrar em Deus nos Acuda, ela não teve qualquer problema para se livrar da imagem da oferecida personagem de Rainha da Sucata. "Sempre que me oferecerem um papel bom, ele será aceito. E vai tomar o lugar do outro", garante.

Mesmo assim, ela faz questão de aproveitar o teatro para ousar mais na escolha das personagens. Por isso, sua opção acaba sendo sempre pelo trágico, como no início da carreira. "O teatro é uma área mais livre de experimentação. Tive uma série de papéis diferentes", avalia, destacando Três Mulheres Altas, de Edward Albee, montada em 1995 ao lado de Beatriz Segall e Nathália Timberg.

Papéis paralelos

Marisa Orth já sabia que queria ser atriz quando prestou vestibular para Psicologia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O curso foi levado até o fim apenas para satisfazer seu pai, que lhe cobrava um diploma universitário - não valia o de Artes Cênicas, claro. Sem nunca ter exercido a profissão, Marisa reconhece os benefícios que os sete anos na faculdade trouxeram à carreira artística. "Aprendi a fazer análise. É preciso ter muita estabilidade emocional para agüentar os vaivéns desta carreira", julga.

Já sobre os palcos, Marisa passou a dividir os papéis no teatro e na tevê com a banda Vexame, que mistura música e teatro numa irreverente crítica ao universo da música "brega". Como a atriz, os sete demais integrantes da banda têm outras profissões. Daí a presença "bissexta" nos palcos. "O Vexame hiberna, mas sempre queremos voltar. Assim que conseguirmos fazer uma coisa mais brega que a MPB atual, faremos um novo espetáculo", alfineta.

A faceta de apresentadora, que hoje ela exibe com orgulho no Saia Justa, foi inaugurada sem sucesso na primeira versão do Big Brother Brasil. Marisa conversava com os participantes e deu uma série de mancadas no ar, até ser retirada do programa. "Era um formato novo para todo mundo. E nunca fui apresentadora", defende-se. Com o programa do GNT, no entanto, que completou em março um ano no ar, ela está bem empolgada. Tanto que aproveita cada conseqüência do fato de estrelar uma novela na Globo como fonte de inspiração para o bate-papo. "Fico sabendo de todas as fofocas. Além disso, estar numa novela faz diferença até para andar na rua", reconhece.
     


                                                 De: Larissa Cardoso



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